O homem por trás do morcego


Quando um blockbuster estreia nos cinemas, as figuras em evidência são os astros do elenco e o diretor. Depois vêm os responsáveis pela trilha sonora, fotografia e roteiro, candidatos a prêmios. Para Batman, a recém-relançada franquia que terminou o seu primeiro fim de semana faturando US$ 248,5 milhões nas bilheterias mundiais, o protagonista oculto do seu estrondoso sucesso é, desde 1989, o produtor executivo Michael Elliot Uslan, 70 anos.

O advogado e escritor judeu de New Jersey que brigou sozinho por longos 10 anos para levar o seu ídolo dos gibis para a telona, batendo na porta de todos os estúdios de Hollywood, chega ao seu auge em 2022, emplacando novos filmes, publicando o segundo livro de memórias e realizando ele próprio todos os seus sonhos de nerd militante. Onipresente nos créditos de produções do Homem-Morcego nas telinhas e telonas, ele não para.

Com apenas 15 anos, Michael Uslan, já um consumidor voraz de quadrinhos de super-heróis, jurou que abriria a trilha de redenção de Batman. Era 1966 e o seu personagem preferido atingira o topo da popularidade graças à série de tevê estrelada por Adam West, marcada pelo humor nonsense. “Prometi encontrar um meio de mostrar ao mundo o Batman real, sombrio e sério, que lutou contra vilões mentalmente perturbados”, contou mais tarde.

A saga de Uslan em prol do Cavaleiro das Trevas no cinema iniciou em 3 de outubro de 1979, quando adquiriu da DC Comics direitos para a adaptação em filme. O Menino que Amava Batman, título da autobiografia de 2011, cumpriu a missão uma década depois, com resiliência heroica, produzindo a superprodução dirigida por Tim Burton e protagonizada por Michael Keaton. Batman quebrou recordes históricos de bilheteria e abriu nova era.

Uslan produziu mais três filmes de Batman de 1992 a 1997. Essa sequência foi quebrada justamente pela perda de seriedade e tom sombrio, impondo intervalo de oito anos, até a franquia ressurgir com Batman Begins (2005) – primeiro episódio da aclamada e bilionária trilogia dirigida por Christopher Nolan e estrelada por Chistian Bale. Até a volta triunfal, o produtor-fã precisou, de novo, defender seu ídolo perante executivos desanimados.

A visão geek do produtor foi consolidada em 2012 e teve novo e decisivo impulso com The Batman, em cartaz hoje até na China, que havia proibido a exibição de enlatados do gênero super-heróis. Antes, Uslan experimentou a glória com Coringa (2019), interpretado por Joaquin Phoenix, que recebeu 11 indicações ao Oscar e levou duas estatuetas. Sua obra biográfica inspirou ano passado um espetáculo da Broadway: Darknights and Daydreams.

Michael Uslan foi o pioneiro ao convencer uma instituição acadêmica, a Indiana University (IU), a reconhecer os quadrinhos como tema sério de estudos, em 1971. Ele provou serem super-heróis descendentes lógicos da mitologia nórdica, egípcia e grega. The Comic Book in Society tornou-se o primeiro curso credenciado no mundo sobre gibis. A saga está contada por ele na plataforma online TEDx Talks e no livro The Comic Book in America.

O amor de Uslan pelo vigilante mascarado, remonta à obsessão desde criança por ler e juntar revistas em quadrinhos. A sua coleção, em torno de 50 mil itens – exceto alguns 20 milhares, incluindo edições muito raras – está abrigada na Lilly Library no campus da IU. Como empregado da DC, foi roteirista de quadrinhos do Batman antes de chegar ao cinema. Hoje o seu nome está vinculado também às séries em desenho animado do herói.

Em paralelo à estreia do novo filme, Uslan acabou de lançar Batman’s Batman, livro no qual narra bastidores de Hollywood e de estúdios de tevê.

* Publicado originalmente na edição online do Correio Braziliense em 09/03/22

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