Meu bat-gibi número um

Sílvio Ribas

A história inicial e mais importante daquela revistinha em quadrinhos nunca deixou a minha cabeça e o meu coração. Publicada em setembro de 1979 pela Ebal, na edição mensal de Batman (40), “A Máscara de Diamantes” foi talvez a primeira leitura “adulta” que fiz do meu herói preferido, ainda aos nove anos. Este querido gibi talvez tenha sido também o item inaugural da minha coleção dedicada ao maior herói da DC, que reúne milhares agora.

Reli inúmeras vezes ao longo de décadas aquele exemplar no brasileiríssimo formatinho (13,5 centímetros de largura por 20,5 de altura), 100% colorido e com papel encorpado. Guardo com carinho o volume de 32 páginas e lombada grampeada, com preço anunciado de 10 cruzeiros e que exibe no seu verso uma propaganda da Gulliver com bonequinhos de heróis montados em motos à fricção, que povoavam meus sonhos à época.

Apesar da ilustração de Jim Starlin na capa sugerir trama da dupla dinâmica com a heroína Caçadora e participação do Morcego-Humano, o número da editora carioca traz mesmo só a aventura solo do Cavaleiro das Trevas por ruas e esgotos de Gotham City. Esse “erro” deve-se apenas ao fato de a edição original, o número 18 da norte-americana Batman Family, em junho de 1978, reunir outras histórias diferentes. De toda forma, vale muito a pena ler.

As 20 páginas de “A Máscara de Diamantes” (“The Monstrosity Chase”, no original) foram escritas pelo genial Denny O’Neil, desenhadas pelo brilhante artista Michael Golden e arte-finalizadas por P. Craig Russell. Trata-se de envolvente triller policial, cujo narrador eventual é o vaidoso Barry Dark, um radialista-celebridade das madrugadas de Gotham. Aprendi com o texto em português a palavra janota (dude, no original em inglês), como Dark é descrito duas vezes, ressaltando a sua presença constantemente impassível.

Na trama, a famosa diretora de teatro Tabitha Blatant é alvo de um ataque criminoso no Gotham Hotel, durante entrevista coletiva dela à imprensa. A Gangue dos Gárgulas rouba uma máscara de ouro maciço apresentada no evento e ainda matam com rajada de balas um Batman impostor, que tentou detê-los. Os assaltantes extravagantes com máscaras de demônios fogem com a secretária de Blatant, Jami Lewin. Começaria aí a eletrizante cruzada para salvar a refém e prender o grupo de meliantes violentos.

Dark vai ao ar para informar o roubo e o suposto assassinato de Batman. O comissário de Polícia James Gordon chega ao local para investigar o crime quando o verdadeiro Cruzado da Capa surge para revelar que o assassinado, fantasiado dele, é o ator Harry Noah, contratado por Tabitha para simular uma segurança extra à máscara. O roubo das plantas dos esgotos da cidade sinalizou ser esta a rota de fuga da gangue. Após dar instruções ao aliado Alfred Pennyworth, o herói entra pelos canos para perseguir implacavelmente os ladrões. 

De seu programa, Dark relata que o cenário da caça de Batman ficará mais desafiador porque uma tempestade está a caminho. Na primeira etapa de sua caminhada, o detetive desarma Maxie e Snail, dois integrantes do bando deixados para trás para dar cobertura à fuga dos demais. Enquanto isso, a estrela do rádio alerta para a possibilidade da represa de Gotham estourar na tempestade, inundando galerias subterrâneas. Outro par de bandidos é detido pelo herói e o pior se confirma: a água sobe até o peito.

O resto da gangue vai atrás do Batman, que acaba por emboscar e subjugar a todos. Dark conta que, entretanto, os mapas dos esgotos com os bandidos estão desatualizados e a saída procurada está bloqueada. O herói com a refém e os bandidos rendidos tenta convencer o líder desse a se render antes que todos morram afogados. Não teve jeito e precisou deixar inconsciente o rival com um murro debaixo d’água. Conduzindo o grupo a uma tampa de bueiro, Batman instrui Jami a bater nele com o sapato. Foi a senha para Alfred detonar pequena carga de explosivos para libertá-los.

A polícia chega para levar os criminosos sob custódia, mas Batman revela que o verdadeiro mentor do crime ainda está solto. Ele e Gordon prendem Tabitha enquanto ela tentava deixar Gotham de avião. A empresária tinha planejado o roubo para embolsar milhões de dólares do seguro. O novo dia começa a surgir e Dark sai da emissora voltando a exibir a sua aparente indiferença com os angustiantes acontecimentos que narrou a noite toda.

Termina aí uma história inteligente e engenhosa de Batman, que mostra personagens bem caracterizados no figuro e na personalidade, com traços realistas e captura da atenção do leitor página após página. As habilidades e a performance do maior detetive do mundo são apresentadas aqui em sua melhor forma, sem excessos e diálogos desnecessários. Valia um filme.

A segunda história dessa publicação no Brasil é “Como Gavião Negro ganhou suas Asas” (“Hawkman Earns Honor Wings”), do roteirista Gardner Fox com desenhos de Joe Kubert, que foi publicada originalmente na edição norte-americana 42 de The Brave and The Bold, em julho de 1962.