Piada fácil, polêmica idem
Eu nem ia comentar, mas seguidores pedem minha opinião sobre a polêmica envolvendo as declarações do brilhante roteirista escocês Grant Morrison sobre Batman. Como jornalista, sei que a imprensa investe nos títulos, nas frases e nos detalhes do texto para atrair o máximo de atenção e de repercussão. No caso da entrevista dada por Morrison à edição de abril da Playboy norte-americana os veículos de comunicação foram em cima dessas diretrizes dando mais peso à afirmação dele que Batman era "gay, muito gay". A infelicidade da abordagem é tão grande quanto das afirmações do entrevistado. Ele próprio contemporiza que o herói é, sim, hétero, mas parte de um "conceito gay". Acredito que nem a comunidade homossexual aceita esse tipo de argumento. Ou é ou não é. E o Morrison, que recebe salários da DC (editora dona do homem-morcego) há 20 anos para escrever sobre ele, sabe e afirma que o mais popular personagem de quadrinhos, com sete décadas de sucesso, não é, nunca foi e nunca será gay. Quanto ao "conceito", aí cabe todo o relativismo psicanalítico, semiótico, sociológico e mediático possível. Apostar nas hipóteses por inferências pobres é ressuscitar teses criminosas (e até preconceituosas contra os gays) de loucos como o professor austríaco Frederic Wertham, o "pai" da mais longa e famosa calúnia sofrida a um personagem fictício, justamente a de que Batman seria um apologista da homossexualidade e da corrupção de menores. Em pleno século 21 não podemos aceitar mais a piada fácil e a polêmica fácil. Leiamos as milhares de histórias publicadas (HQ como base), seus diálogos, cenas e balões com pensamentos. Basta isso para encerrar de vez com essas bobagens que voltam de tempos em tempos. Estética gay em Batman só a deliberada pelo diretor Joel Schumacher, do filme Batman e Robin (1997). Só e somente só. O que vocês acham?
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