Batman versus o deus do trovão
Por Roberto Guedes
Todo mundo sabe que o Poderoso Thor é um sujeito meio esquentado e briguento. Que já saiu na porrada com quase tudo quanto é fulano: Galactus, Hulk, Surfista Prateado... e até mesmo com Superman. Pra ele, não tem conversa: se alguém olhar torto, vai levar bordoada... (ops!) martelada.
Entretanto, todos seus antagonistas costumam ser pesos pesados, afinal, o representante viking do lado de lá da ponte do arco-íris não é um sujeito covarde, tampouco mau caráter. No máximo, um pouco rebelde - resultado de uma juventude complicada, devido a um pai possessivo que regulava até com quem o rapagão poderia ou não namorar. Bah... não é à toa que o mancebo se mandou de Asgard e deixou a cabeleira passar dos ombros...
Porém, houve um dia em que o lendário Thor teve de enfrentar um cara bem menos poderoso do que ele. Aliás, dois "carinhas": Batman e Robin. Isso mesmo! O imbróglio aconteceu há muito tempo, precisamente nas páginas da revista Batman 127 (outubro de 1959). "Mas como..." - você já deve estar indagando, "...se Stan Lee e Jack Kirby só criaram o deus do trovão em 1962?". Simples, intrepid one, Thor, antes de tudo, é um deus da mitologia nórdica, portanto, qualquer um pode escrever sobre ele. O que vai determina-lo como marca registrada de alguém ou de alguma editora são as particularidades acrescidas à sua base mitológica, que o transformarão em um personagem distinto. Mas isso não vem ao caso agora, pois o mote destas linhas é o encontro do Cruzado Embuçado com um outro Filho de Odin com background bem parecido com o do super-herói da Marvel Comics.
Provavelmente, você já leu em algum lugar que na década de 1950, os quadrinhos sofreram perseguição por parte de educadores, psiquiatras e até mesmo da igreja, sob a alegação de que promoviam a delinqüência entre as crianças e os jovens. Criaram então, um código censor para controlar a violência e sensualidade das HQs, o Comics Code (Código de Ética, aqui no Brasil). Nessa verdadeira "caça às bruxas", muitos personagens e revistas e sumiram da noite pro dia, e quem permaneceu, teve o enredo de suas histórias bem "suavizados".
Com Batman não foi diferente. A partir da edição 113 da publicação homônima e de Detective Comics 250, os gangsteres armados de Gotham City deram lugar a criaturas do espaço e criminosos interplanetários. E a deuses mitológicos.
A história de oito páginas "The hammer of Thor" ("O martelo de Thor") é a terceira da revista, e também a de destaque na capa (desenhada por Curt Swan e Stan Key). Na ocasião não era costume creditar os autores, mas pelo estilo do traço, concluí-se que os desenhos são de Sheldon Moldoff, um dos principais nomes do estúdio de Bob Kane na ocasião. Provavelmente, o script ficou a cargo de Bill Finger, mas isso é apenas um palpite...
A trama se inicia com o anúncio de uma tempestade sobre a cidade. A dupla dinâmica se depara com uma visão estranha: um gigante ruivo que se auto-intitula "Thor, o deus do trovão", e que consegue destroçar o cofre de aço de um banco usando um martelo mágico. Sim, pois, ao ser arremessado, o apetrecho volta sozinho às mãos de seu dono. Obviamente os dois paladinos tentam conter Thor, apenas para serem repelidos facilmente como se fossem mosquitos.
Quadrinho vai, quadrinho vem, e Batman descobre, meio que por acaso, que Thor e o franzino Henry Meke - o curador de um museu de réplicas de armas históricas e lendárias -, são a mesma pessoa. Meke (que podemos entender como um trocadilho para "meek", "manso" em português), viu um meteorito atravessar a janela do museu e acertar em cheio a réplica do martelo de Thor. Ao tocar no utensílio, as energias cósmicas contidas no objeto o transformaram física e mentalmente em outra pessoa. Com a mente abalada, acreditou ser o personagem da mitologia e passou a acumular tesouros, para erigir um templo de adoração ao "seu pai" Odin.
As transformações ocorriam sempre que trovões prenunciavam um temporal. A psique turbada de Meke entendia aquilo como a "voz de Odin", e aí, o caos se instaurava. Quando Batman se desviou de uma martelada, que acabou atingindo a caixa de força do edifício, o martelo perdeu seu poder, e Meke voltou ao normal.
Essa aventura jamais ganharia o prêmio Eisner dos Quadrinhos, mas continua a ser, com certeza, deveras interessante por causa de todos esses pequenos detalhes transcritos aqui.
O meteorito atingir um objeto dentro de um prédio lembra a origem de Flash (Barry Allen), enquanto que o fato de um homem fraco se tornar um bólido de poder remete ao Capitão "Shazam" Marvel. Mas apesar desse Thor ser um guerreiro orgulhoso, e de sua arma sempre retornar às suas mãos após ser arremessada, assim como é descrito nas lendas nórdicas e germânicas, não há como evitar comparação com a criação de Lee e Kirby, cuja estréia ocorreu apenas em agosto de 1962, nas páginas de Journey into Mystery 83, não é mesmo?
Ah, uma última coincidência: durante a história, Batman diz a Meke que o tal meteorito fez uma longa "jornada" até chegar a Terra.
Todo mundo sabe que o Poderoso Thor é um sujeito meio esquentado e briguento. Que já saiu na porrada com quase tudo quanto é fulano: Galactus, Hulk, Surfista Prateado... e até mesmo com Superman. Pra ele, não tem conversa: se alguém olhar torto, vai levar bordoada... (ops!) martelada.
Entretanto, todos seus antagonistas costumam ser pesos pesados, afinal, o representante viking do lado de lá da ponte do arco-íris não é um sujeito covarde, tampouco mau caráter. No máximo, um pouco rebelde - resultado de uma juventude complicada, devido a um pai possessivo que regulava até com quem o rapagão poderia ou não namorar. Bah... não é à toa que o mancebo se mandou de Asgard e deixou a cabeleira passar dos ombros...
Porém, houve um dia em que o lendário Thor teve de enfrentar um cara bem menos poderoso do que ele. Aliás, dois "carinhas": Batman e Robin. Isso mesmo! O imbróglio aconteceu há muito tempo, precisamente nas páginas da revista Batman 127 (outubro de 1959). "Mas como..." - você já deve estar indagando, "...se Stan Lee e Jack Kirby só criaram o deus do trovão em 1962?". Simples, intrepid one, Thor, antes de tudo, é um deus da mitologia nórdica, portanto, qualquer um pode escrever sobre ele. O que vai determina-lo como marca registrada de alguém ou de alguma editora são as particularidades acrescidas à sua base mitológica, que o transformarão em um personagem distinto. Mas isso não vem ao caso agora, pois o mote destas linhas é o encontro do Cruzado Embuçado com um outro Filho de Odin com background bem parecido com o do super-herói da Marvel Comics.
Provavelmente, você já leu em algum lugar que na década de 1950, os quadrinhos sofreram perseguição por parte de educadores, psiquiatras e até mesmo da igreja, sob a alegação de que promoviam a delinqüência entre as crianças e os jovens. Criaram então, um código censor para controlar a violência e sensualidade das HQs, o Comics Code (Código de Ética, aqui no Brasil). Nessa verdadeira "caça às bruxas", muitos personagens e revistas e sumiram da noite pro dia, e quem permaneceu, teve o enredo de suas histórias bem "suavizados".
Com Batman não foi diferente. A partir da edição 113 da publicação homônima e de Detective Comics 250, os gangsteres armados de Gotham City deram lugar a criaturas do espaço e criminosos interplanetários. E a deuses mitológicos.
A história de oito páginas "The hammer of Thor" ("O martelo de Thor") é a terceira da revista, e também a de destaque na capa (desenhada por Curt Swan e Stan Key). Na ocasião não era costume creditar os autores, mas pelo estilo do traço, concluí-se que os desenhos são de Sheldon Moldoff, um dos principais nomes do estúdio de Bob Kane na ocasião. Provavelmente, o script ficou a cargo de Bill Finger, mas isso é apenas um palpite...
A trama se inicia com o anúncio de uma tempestade sobre a cidade. A dupla dinâmica se depara com uma visão estranha: um gigante ruivo que se auto-intitula "Thor, o deus do trovão", e que consegue destroçar o cofre de aço de um banco usando um martelo mágico. Sim, pois, ao ser arremessado, o apetrecho volta sozinho às mãos de seu dono. Obviamente os dois paladinos tentam conter Thor, apenas para serem repelidos facilmente como se fossem mosquitos.
Quadrinho vai, quadrinho vem, e Batman descobre, meio que por acaso, que Thor e o franzino Henry Meke - o curador de um museu de réplicas de armas históricas e lendárias -, são a mesma pessoa. Meke (que podemos entender como um trocadilho para "meek", "manso" em português), viu um meteorito atravessar a janela do museu e acertar em cheio a réplica do martelo de Thor. Ao tocar no utensílio, as energias cósmicas contidas no objeto o transformaram física e mentalmente em outra pessoa. Com a mente abalada, acreditou ser o personagem da mitologia e passou a acumular tesouros, para erigir um templo de adoração ao "seu pai" Odin.
As transformações ocorriam sempre que trovões prenunciavam um temporal. A psique turbada de Meke entendia aquilo como a "voz de Odin", e aí, o caos se instaurava. Quando Batman se desviou de uma martelada, que acabou atingindo a caixa de força do edifício, o martelo perdeu seu poder, e Meke voltou ao normal.
Essa aventura jamais ganharia o prêmio Eisner dos Quadrinhos, mas continua a ser, com certeza, deveras interessante por causa de todos esses pequenos detalhes transcritos aqui.
O meteorito atingir um objeto dentro de um prédio lembra a origem de Flash (Barry Allen), enquanto que o fato de um homem fraco se tornar um bólido de poder remete ao Capitão "Shazam" Marvel. Mas apesar desse Thor ser um guerreiro orgulhoso, e de sua arma sempre retornar às suas mãos após ser arremessada, assim como é descrito nas lendas nórdicas e germânicas, não há como evitar comparação com a criação de Lee e Kirby, cuja estréia ocorreu apenas em agosto de 1962, nas páginas de Journey into Mystery 83, não é mesmo?
Ah, uma última coincidência: durante a história, Batman diz a Meke que o tal meteorito fez uma longa "jornada" até chegar a Terra.
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