Texto do vídeo-documentário de 1990

Prezados, para quem quiser os subtitles do vídeo sobre a semiótica de Batman, que produzi no começo dos anos 1990 e que foi postado pelo meu amigo Leo no Youtube, eis aqui a íntegra do texto digitado originalmente na máquina de escrever. "1939. Para criar um personagem que concorresse com o Super-Homem, o jovem desenhista Bob Kane, então com 18 anos, cria "Batman", o Homem-Morcego, ajudado pelo roteirista Bill Finger e inspirado nos filmes "The Bat" e "A Marca do Zorro". Os desenhos de Kane têm um traço duro e barroco. Batman nasceu misterioso, implacável e impiedoso. O Homem-Morcego era uma mistura de Conde Drácula, Sherlock Holmes e Zorro. Em 50 anos de vida, Batman tem mudado de sentimentos e convicções ideológicas como qualquer pessoa. Duas faces do personagem são conhecidas de todos: a do cruzado cômico da TV e do cavaleiro apocalíptico do filme "Batman", herdeiro da obra referencial "O Cavaleiro das Trevas", de Frank Miller. O garoto Bruce Wayne assiste ao assassinato dos pais aos oito anos e a partir daí jura vingança e dedica a sua vida ao combate ao crime. Adulto, o milionário playboy e filantropo com estupendo preparo físico e dotado de várias habilidades, concentra-se em procurar uma forma de torna-se o inimigo primeiro dos criminosos. "Criminosos são supersticiosos, covardes, então devo dar-lhes terror. Que me vejam como uma criatura da noite. Um morcego. Sim, serei um morcego". Vestido como morcego, Bruce é Batman, terror dos bandidos. Sob a mansão Wayne está a bat-caverna, sede de suas atividades secretas. Depois de algum tempo só, Batman acolhe e treina o órfão trapezista Dick Grayson, cujos pais também foram mortos criminosamente. O desejo de vingança os une em uma dupla, a "dupla dinâmica". Batman, um ser gótico, violento e soturno começa a se humanizar com o menino-prodígio. Robin foi o freio de sua psicopatia. Muitos vilões surgiram para lutar contra Batman, mas o Coringa, o insano Palhaço do Crime, se tornou o oposto perfeito. Quando Robin vai para a universidade, o Cavaleiro das Trevas, sempre apoiado pelo seu talentoso mordomo Alfred e contracenando com o Comissário Gordon, adota um novo Robin, Jason Todd. Jason é assassinado pelo Coringa. Batman, novamente o guerreiro solitário, fica no dilema entre a lógica e a loucura. Incluindo uma conturbada vida amorosa. Quatro fases pontuam a vida do herói. A primeira, liga à sua origem taciturna. A segunda, a partir da parceria com Robin entre os anos 40 e 60, com aventuras psicodélicas e a proliferação dos vilões caricatos de Gotham, como a Mulher-Gato, o Pingüim e o Charada. O seriado da TV marca o "nonsense" dessa longa fase. A terceira fase, localizada nos anos 70, marca o resgate das origens do personagem imprevisível e falho. E a última e atual fase revela-se a síntese da biografia cinqüentenária do vingador mascarado. Uma análise semiótica de Batman mostra os muitos elementos que regem o super-signo que ele é. As orelhas pontudas de sua máscara apontam para o céu negro. Seu semblante sisudo, olhos rasgantes e frios revelam o interior perturbado. Coberto e misturado pela noite, Batman encarna o medo humano pelo desconhecido da escuridão. O morcego, donde Batman forjou seu visual notívogo, é um mamífero voador que foi e é reconhecido por muitas culturas como animal amaldiçoado e místico. O super-heroísmo de Batman difere por estar mais perto do real. Ele não é o dono da noite. É a própria noite. O Homem-Morcego sempre mostra-se parcialmente ocultado ou confundido por sombras. Ele vaga por lugares ermos, emerge e desaparece no breu. É irônico às vezes e fala pouco. Seus olhos brancos são um aspecto sinistro de desenhos de figuras mascaradas. Ambigüidade, tormenta e solidão marcam a personalidade de Batman. Bruce Wayne é a identidade secreta ou o disfarce de Batman? O tamanho da capa, o feitio do escudo e o cinto variaram com o tempo, um visual passado e um atual. O emblema, como um ícone de morcego inscrito numa base ovalada amarela, serve para destacar e fazer ressoar o signo "bat" em outros referentes. Para os que desconhecem o emblema-signo, ele pode parecer uma boca com sete dentes. A arquitetura de Gotham City pode ser chamada de psicótica. A simetria gera a necessidade de Brechas para os dois lados do ser, numa luta contra a razão. A dualidade Batman/Coringa é vista num mal que, de tão gozado, deixa de ser ruim e um bem que, de tão sisudo, deixa de ser bom. A face branca do mal versus a face negra do bem. O Coringa também é dual quando sua face exterior sorri, quando na verdade não está. Batman é herói multimída cujo signo é dado pela biografia, no visual, nas atitudes e é composto no homem-noite. Uma mensagem maniqueísta e alucinada. Batman é primeiridade, secundidade e terceiridade porque abala, induz e imprime uma linguagem. O complexo ser mitológico do século vinte acontece num fenômeno semiótico de primeira grandeza".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Só o pó na capa do Batman...

O segredo do morcego

O Coringa no Funk